“Quando uma grita, todas gritam junto”: mulheres ganham voz em Audiência Pública na Câmara
Primeira reunião da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher do Legislativo foi realizada nessa quarta-feira, dia 14
Dezenas de mulheres compareceram ao Plenário da Câmara Municipal de Cotia para a primeira reunião de trabalho da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher. Realizada na manhã da quarta-feira, dia 14, a Audiência Pública contou com a presença de trabalhadoras, ativistas, artistas e autoridades regionais ligadas à causa feminista (veja as fotos neste link).
Criada por meio do Projeto de Resolução nº 1/2025, a Comissão é presidida pelo vereador Alexandre Frota (PDT), autor da propositura. “Quando cheguei aqui, me pareceu estranho não ter uma comissão pra discutir os problemas, os direitos e as ideias das mulheres desta cidade. Também volto a ressaltar que sinto muito a falta de mulheres como vereadoras. Queremos dar voz para que vocês possam expressar aqui o que pensam sobre a cidade e as questões de importância pra vida de cada uma de vocês e de todas as mulheres”, afirmou o vereador.
Abrindo o espaço para as presentes se manifestarem na Tribuna, a secretária municipal da Mulher, Neurodiversidade e Inclusão Social, Solange Aroeira, falou sobre o combate à violência contra a mulher, que afeta famílias e a sociedade como um todo. “Vivemos em tempos de violência que não se expressa apenas com gritos, golpes ou sangue derramado. Ela também silencia, exclui e marginaliza. Nenhuma exclusão deve ser invisível, nenhuma mulher ou família deve ser deixada para trás. O combate à violência é uma responsabilidade coletiva”.
Cantora, MC, rapper e atriz, a artista Amanda Negrasim falou sobre a invisibilização das mulheres negras e o legado de resistência do povo preto, herdado de sua mãe. “Eu estou cansada de não ser vista pela cidade. Nós não somos invisíveis e quando uma mulher grita, todas gritam junto”. A artista lembrou a necessidade de ações concretas e exaltou a resiliência das mulheres pretas na periferia.
“Sabe o saco de lixo? Tratam a gente assim”, discursou emocionada a presidente da Cooperativa de Reciclagem Luxo do Lixo, Solange Fernandes Resende Cabral. Através de sua própria história de vida, a trabalhadora falou sobre preconceito e as dificuldades diárias enfrentadas pelas mulheres. “Com 10 anos de idade meu pai me botou dentro de um lixão para trabalhar. Eu comi lixo, comia xepa dos restaurantes. Tive seis filhos, minha mãe é alcoólatra e apanhava. Eu não tive estudo, não tenho conhecimento, mas quero que nos represente, porque estou cansada”, desabafou Solange.
A intenção, segundo o vereador Alexandre Frota, é que a Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher se reúna mensalmente para não só debater, mas também receber projetos e colocá-los em prática. “Quero que a gente avance e não fique só nas falas. É muito difícil ouvir tudo isso e saber o quanto a política no país é inerte diante dessas pautas e demandas, diante dessas vidas”, concluiu emocionado.
Crédito das fotos: Câmara Municipal de Cotia